O Transtorno Obsessivo Compulsivo - TOC
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Visão Geral

Por vezes pode-se pensar que é “bobagem” alguém sofrer de Transtorno Obsessivo-Compulsivo (TOC), já que as obsessões e as compulsões podem ser vistas por algumas pessoas como coisas fáceis de se controlar. O que talvez seja verdade, para a maioria das pessoas, pelo menos.

Entretanto, para quem sofre do transtorno de obsessão e compulsão, ou seja, para as pessoas que são diagnosticadas com TOC, o controle não faz parte de seu vocabulário.

De fato, os rituais que alguém com TOC se vê obrigado a repetir diversas vezes não são percebidos como agradáveis. Mas eles não têm muita escolha quanto a esses comportamentos.

Por exemplo, se temos algum amigo ou amiga que precisa lavar as mãos o tempo todo, nas situações mais bobas e até aparentemente desnecessárias, pode soar até engraçado e levar a risadas e zoação entres os amigos.

Porém, o que em geral pode passar despercebido é que esse comportamento pode, e provavelmente está, causando algum grau de sofrimento a essa pessoa. Ela pode ter um sério problema com um transtorno obsessivo-compulsivo. Talvez os amigos dessa pessoa até já saibam disso, mas não levam tão a sério, pois parece bobagem.

Mas, se você compartilha dessa visão, saiba que está errado. Apesar de parecer um problema menor, o Transtorno Obsessivo Compulsivo é considerado um problema de saúde mental sério.

Vale notar que em casos mais severos e graves os efeitos do TOC podem ser tão grandes que podem levar o portador do transtorno à loucura, ou a ser impelido a realizar atos hediondos.

Pode ocorrer de a pessoa que apresenta Transtorno Obsessivo-Compulsivo não procurar tratamento adequado, por achar que é algo bobo, ou mesmo recusar-se a obter ajuda por ter vergonha de admitir que tem TOC.

Na psicologia entende-se o TOC como uma aflição, uma patologia, algo que gera sofrimento ao indivíduo.

É comum, porém, que as pessoas não queiram admitir que um problema aparentemente pequeno, como a compulsão a organizar repetidamente uma coisa particular de novo e de novo, seja, de fato, uma doença mental. Nós não podemos culpá-las, afinal, quem quer admitir que tem um problema psicológico?

Temos que convir que já é tempo de tratar o transtorno obsessivo-compulsivo como um problema sério. Especialmente levando-se em consideração que, se deixado sem tratamento, o TOC pode nos custar muito da qualidade de vida, dos relacionamentos e até mesmo empregos e estudos.

Tipos de Transtorno Obsessivo-Compulsivo

O Transtorno Obsessivo-Compulsivo pode se apresentar em diversas formas, mas no geral se enquadram em quatro categorias gerais [2]:

  • Checagem – como checar se fechaduras estão fechadas, sistemas de alarme, interruptores de luz, ou pensar que tem alguma condição de saúde, como gravidez ou esquizofrenia.
  • Contaminação – Como no caso de compulsão por limpeza, ou medo exagerado de coisas que pensam estar sujas. 
  • Simetria ou Ordenação – Como na necessidade de deixar as coisas ordenadas de uma maneira específica.
  • Ruminação e Pensamentos Intrusivos – se apresenta na forma de obsessão por uma linha de pensamento. Alguns desses pensamentos podem ser perturbadores ou violentos.

As Obsessões

As obsessões são pensamentos, imagens ou impulsos que ocorrem repetidamente e parecem estar fora do controle da pessoa. Estas obsessões costumam ser acompanhadas por intenso desconforto.

Um ponto importante é que no TOC as obsessões precisam consumir um tempo considerável da pessoa e interferir no seu funcionamento normal e nas suas atividades cotidianas para que ocorra o diagnóstico do TOC – um transtorno psicológico – e não apenas a presença de traços obsessivos de personalidade.

Além disso, vale notar que a compulsão excessiva presente no TOC se diferencia da simples preocupação com alguns eventos, o que pode ocorrer com qualquer pessoa, pois no TOC os pensamentos intrusivos ocorrer com muita frequência e disparam uma ansiedade extrema de modo que chega a interferir no funcionamento diário da pessoa.

As Compulsões

As compulsões são a segunda parte do transtorno obsessivo compulsivo, e são caracterizadas como comportamentos repetitivos ou pensamentos que as pessoas usam como forma de neutralizar ou dissipar suas obsessões.

Comumente as pessoas acometidas por TOC percebem que esta é apenas uma solução temporária, porém, na falta de uma forma melhor de lidar com suas obsessões, acabam contando com as compulsões como uma forma temporária de escape.

As obsessões podem, também, incluir a evitação de situações que disparam as obsessões.

No TOC os comportamentos compulsivos são realizados com a intenção de tentar escapar ou reduzir a ansiedade ou a presença das obsessões.

Mais uma vez é importante diferenciar os comportamentos repetitivos que são característicos do TOC daqueles comportamentos de repetição que um indivíduo pode ou precisa realizar na sua rotina diária. Uma pessoa pode gostar de arrumar itens em uma estante diariamente, ou precisar repetir exercícios para aprender uma disciplina nova.

As repetições de atividades que a pessoa com TOC realiza costumam ser excessivas e são geralmente atividades que a pessoa preferiria não ter que fazer, além de consumir muito do seu tempo e podem ser atos quase tortuosos.  

Diagnóstico

De acordo com o DSM-V (APA, 2013), os critérios para se diagnosticar o Transtorno Obsessivo-Compulsivo são:

  1. Presença de obsessões, compulsões ou ambas:

Obsessões são definidas por (1) e (2):

  1. Pensamentos, impulsos ou imagens recorrentes e persistentes que, em algum momento durante a perturbação, são experimentados como intrusivos e indesejados e que, na maioria dos indivíduos, causam acentuada ansiedade ou sofrimento.
  2. O indivíduo tenta ignorar ou suprimir tais pensamentos, impulsos ou imagens ou neutralizá-los com algum outro pensamento ou ação.

As compulsões são definidas por (1) e (2):

  1. Comportamentos repetitivos (p. ex., lavar as mãos, organizar, verificar) ou atos mentais (p. ex., orar, contar ou repetir palavras em silêncio) que o indivíduo se sente compelido a executar em resposta a uma obsessão ou de acordo com regras que devem ser rigidamente aplicadas.
  2. Os comportamentos ou os atos mentais visam prevenir ou reduzir a ansiedade ou o sofrimento ou evitar algum evento ou situação temida; entretanto, esses comportamentos ou atos mentais não têm uma conexão realista com o que visam neutralizar ou evitar ou são claramente excessivos.

Nota: Crianças pequenas podem não ser capazes de enunciar os objetivos desses comportamentos ou atos mentais.

  1. As obsessões ou compulsões tomam tempo (p. ex., tomam mais de uma hora por dia) ou causam sofrimento clinicamente significativo ou prejuízo no funcionamento social, profissional ou em outras áreas importantes da vida do indivíduo.
  2. Os sintomas obsessivo-compulsivos não se devem aos efeitos fisiológicos de uma substância (p. ex., droga de abuso, medicamento) ou a outra condição médica.
  3. A perturbação não é mais bem explicada pelos sintomas de outro transtorno mental (p. ex., preocupações excessivas, como no transtorno de ansiedade generalizada; preocupação com a aparência, como no transtorno dismórfico corporal; dificuldade de descartar ou se desfazer de pertences, como no transtorno de acumulação; arrancar os cabelos, como na tricotilomania [transtorno de arrancar o cabelo]; beliscar a pele, como no transtorno de escoriação [skin-picking]; estereotipias, como no transtorno de movimento estereotipado; comportamento alimentar ritualizado, como nos transtornos alimentares; preocupação com substâncias ou jogo, como nos transtornos relacionados a substâncias e transtornos aditivos; preocupação com ter uma doença, como no transtorno de ansiedade de doença; impulsos ou fantasias sexuais, como nos transtornos parafílicos; impulsos, como nos transtornos disruptivos, do controle de impulsos e da conduta; ruminações de culpa, como no transtorno depressivo maior; inserção de pensamento ou preocupações delirantes, como nos transtornos do espectro da esquizofrenia e outros transtornos psicóticos; ou padrões repetitivos de comportamento, como no transtorno do espectro autista).

Tratamentos para o Transtorno Obsessivo Compulsivo

O tratamento do Transtorno Obsessivo-Compulsivo baseia-se em gerenciar os sintomas e a forma como eles afetam a vida da pessoa. Não existe ainda um tratamento que seja considerado uma cura do TOC. Os tratamentos, entretanto, podem se dividir em duas categorias principais.

Em primeiro lugar, a pessoa pode optar por seguir o caminho médico, através de medicações que irão aumentar os níveis de serotonina em nossos cérebros e nos ajudar a combater obsessões e compulsões.

As medicações psicotrópicas costumam ser utilizadas para diminuir e controlar os sintomas do TOC, dentre elas estão os antidepressivos mais modernos como os Inibidores Seletivos da Recaptação da Serotonina (ISRS), que costumam levar de 2 a 4 meses para começar a apresentar o efeito desejado. Quando os ISRS não são eficazes para o controle dos sintomas do TOC, os antidepressivos tricíclicos põem ser usados, ou mesmo os psicotrópicos antipsicóticos como Aripiprazol ou Risperidona.

Nesta abordagem, entretanto, corre-se o risco de causar dependência às drogas para controlar os sintomas do TOC.

O segundo tipo de tratamento busca realizar uma modificação nas crenças e comportamentos do indivíduo. A principal vertente deste tratamento é a Terapia Cognitivo-Comportamental e acredita-se que as pessoas que passam por um tratamento psicológico através desta terapia conseguem um índice de “cura” maior, pois além de aprender a controlar e se libertar de certos hábitos do TOC, as pessoas aprendem a detectar alguns deles logo no início, conseguindo interromper o ciclo.

A terapia comportamental diz respeito a forma como as pessoas respondem a certos estímulos, assim, o seu efeito é maior amplo e tem efeito a longo prazo.

No geral, os tratamentos altamente estruturados apresentam um resultado melhor a longo prazo do que o uso de medicação.

Podem ser utilizadas ainda técnicas de relaxamento e respiração para ajudar a diminuir os sintomas ansiosos do TOC. Podem ser indicados a prática de Yoga,

Em contrapartida, existe também a neuromodulação, que pode ser utilizada em casos mais raros quando as demais técnicas falham no controle dos sintomas do TOC, os médicos podem recorrer a dispositivos e técnicas cujo objetivo é modificar a atividade elétrica determinadas áreas do cérebro. Uma dessas técnicas é a Estimulação Magnética Transcraniana, que é aprovada pela FDA (U.S. Food and Drug Administration) para o tratamento do TOC. Existe, ainda, um procedimento mais complexo chamado de Estimulação Cerebral Profunda, que faz uso de eletrodos implantados na cabeça do paciente.

A forma como uma pessoa deseja que seu Transtorno Obsessivo-Compulsivo seja tratado é uma questão extremamente pessoal, em comum acordo com o profissional de saúde mental responsável que seja escolhido pela pessoa. Porém, recomenda-se que a terapia cognitivo-comportamental seja preferido, por esta lidar com as ações de resposta comportamental da pessoa como um todo. Além do mais, como existem diversas modalidades de tratamentos disponíveis atualmente, as pessoas não têm mais motivos para esconder ou não tratar suas obsessões e compulsões.

Referências
  1. American Psychiatric Association. Manual diagnóstico e estatístico de transtornos mentais: DSM-V. 5ªed. rev. Porto Alegre: Artmed; 2013.
  2. WebMD, 2020. Obsessive Compulsive Disorder (OCD). Retrieved from https://www.webmd.com/mental-health/obsessive-compulsive-disorder
  3. Clark, David A.; & Radomsky, Adam S. (2014). Introduction: A global perspective on unwanted intrusive thoughts. Journal of Obsessive-Compulsive and Related Disorders. Available online 18 February 2014. DOI: 10.1016/j.jocrd.2014.02.001 http://www.sciencedirect.com/science/article/pii/S2211364914000128
  4. International OCD Foundation. About OCD. Retrieved from: https://iocdf.org/about-ocd/