Se você se interessa por conexões humanas profundas e acredita no poder transformador da empatia, talvez você se identifique com essa abordagem.
Quem a utiliza nas suas relações, consegue ver o mundo com os olhos do outro, ao mesmo tempo que experimenta uma vivência plena que caminha sempre em direção ao crescimento.
O Que é a Abordagem Centrada na Pessoa?
A Abordagem Centrada na Pessoa (ACP), também conhecida como Terapia Centrada no Cliente, é uma forma não-diretiva de psicoterapia e tem como fundador o psicólogo humanista Carl Rogers.
A ACP vai muito além da clínica e pode ser utilizada nas relações humanas em geral, pois sua teoria se baseia na aceitação incondicional do outro, empatia e escuta sem julgamento.
Diferente das outras abordagens, a Abordagem Centrada na Pessoa não tem como objetivo modelar comportamentos, nem procurar diagnósticos.
Ela vê o homem como um todo, considerando todos os aspectos que compõem a sua vida e proporciona uma visão profunda das dificuldades que o cliente está enfrentando, ao mesmo tempo que potencializa a sua capacidade de resolvê-las por contra própria.
Essa abordagem requer que o psicoterapeuta tome uma postura empática e enxergue o mundo pelo ponto de vista do cliente.
É necessário não fazer julgamentos e nem oferecer soluções, em vez disso, o paciente terá uma escuta ativa até que se sinta confortável para tomar decisões de forma independente.
Na ACP, o psicoterapeuta deve ser apenas um facilitador que vai empoderar, motivar e orientar o cliente na sua jornada de autodescoberta.
O indivíduo “assume as rédeas” do seu destino, procurando melhores maneiras de superar as dificuldades e autorrealizar-se.
Objetivos da Abordagem Centrada na Pessoa
Na terapia centrada na pessoa é o próprio cliente que define os objetivos a serem trabalhados.
Durante o processo terapêutico, o cliente toma consciência de si e consegue entender quais aspectos de sua vida precisam de mudança e quais as suas necessidades a serem supridas.
Assim, ele consegue definir as metas necessárias para se desenvolver de forma saudável.
Dentre os inúmeros objetivos que podem ser alcançados dentro da psicoterapia, podemos citar:
- Melhora do autoconceito,
- Desenvolvimento pessoal,
- Aumento da autoestima,
- Diminuição das críticas sobre si,
- Abertura para novas experiências,
- Empatia e compreensão do outro em todas as relações, não somente na terapia.
Quem foi Carl Rogers?
Carl Ransom Rogers nasceu no dia 8 de janeiro de 1902, em Oak Park, no estado de Illinois, Estados Unidos. Foi um dos psicólogos mais proeminentes do século XX.
Atuou na abordagem humanista, terceira força da psicologia, e foi o criador da Abordagem Centrada na Pessoa. Carl Rogers foi um dos pais da saúde mental moderna, marcada por uma preocupação holística com o homem, não a resumindo simplesmente a uma doença.
O genitor de Carls Rogers foi engenheiro civil, quanto sua genitora foi dona de casa. Rogers, o quarto de seis filhos, cresceu em um lar bastante conservador, que seguia estritamente os valores tradicionais.
Durante sua infância e juventude foi privado de muitas coisas, como dança, jogos de carta, espetáculos, bebidas alcoólicas. Para a sua família tudo isso remetia ao pecado.
Apesar de tudo, os seus pais eram muito preocupados com o bem-estar dos filhos, e investiram desde cedo na educação.
Na escola Rogers foi um aluno brilhante, e como estudava muito, tinha pouco tempo para o lazer. Antes de adentrar na psicologia fez os cursos de agricultura, religião e história.
Em 1914 se mudou com sua família para uma área rural. Sempre foi um grande observador da natureza e nessa época iniciou a experimentação dos seus métodos científicos, acompanhava o nascimento e desenvolvimento das plantas, insetos e animais.
Após uma viagem para China, ele pode conhecer culturas e crenças diferentes. A partir daí ele garante uma maior autonomia e se liberta das influências autoritárias dos pais e passa a ter os próprios objetivos, valores e filosofias.
Em 1924 se casou com Ellen e anos depois tiveram dois filhos, David e Natalie. No mesmo ano começou a frequentar cursos de psicologia e conheceu as suas primeiras referências dentro da área.
Já como psicólogo, trabalhou na Sociedade para a Prevenção da Crueldade Contra Crianças e no Centro de Observação e Orientação Infantil.
Em 1939 lança o seu primeiro livro: “O tratamento Clínico da Criança Problema”. Nesse livro ele narra as suas experiências adquiridas em anos de trabalho com crianças delinquentes e sem recursos.
No ano seguinte, em uma conferência, ele apresentou as suas ideias para o mundo, e assim nasceu a Abordagem Centrada na Pessoa.
Apesar de inúmeras críticas, em 1945, é eleito a presidente da Associação Americana de Psicologia. Desde então ele foi aperfeiçoando e acrescentando novas ideias a sua teoria, que se divide em fases: Não-diretiva, reflexiva, experiencial e fase coletiva.
Em 1957, liderou um estudo que utilizava a psicoterapia centrada com pacientes esquizofrênicos.
Carl Rogers marcou sua passagem pelo mundo deixando inúmeros escritos e registros, que incluem livros, filmes, gravações audiovisuais e sonoros.
Em 18 de janeiro de 1987, Rogers foi indicado ao Prêmio Nobel da Paz. E em 4 de fevereiro do mesmo ano faleceu na cidade de La Jolla, Califórnia, Estados Unidos.
Cliente vs Paciente
Rogers preferiu utilizar o termo “cliente” ao invés de “paciente”. Ele acreditava que a expressão “paciente” remetia a doença.
Esse termo se aproxima mais da realidade da ACP, pois muda a concepção de que o cliente está doente e que precisa ser curado pelo psicoterapeuta.
Vale lembrar que essa abordagem não busca um diagnóstico.
Tendência Atualizante
A tendência atualizante é um princípio inerente ao ser humano e a todos os seres vivos. Se refere à capacidade que todos os organismos possuem para crescer, se desenvolver e encontrar uma melhor versão de si mesmos, desde que no ambiente tenha as condições favoráveis para o seu crescimento.
Rogers destaca que:
“Os organismos estão sempre em busca de algo, sempre iniciando algo, sempre “prontos para alguma coisa”. Há uma fonte central de energia no organismo humano. Essa fonte é uma função do sistema como um todo, e não de uma parte dele. A maneira mais simples de conceituá-la é como uma tendência à plenitude, à autorrealização, que abrange não só a manutenção, mas também o crescimento do organismo” (ROGERS, 1983, p. 44).
O indivíduo por si só consegue reconhecer suas necessidades básicas e tem total capacidade para satisfazê-las antes que se tornem demandas urgentes. A procura por um psicoterapeuta é um exemplo de tendência atualizante.
De acordo com Rogers, existem atitudes psicológicas que facilitam a tendência atualizante, são elas:
- Empatia,
- Congruência,
- Consideração positiva incondicional.
1 - Empatia
A empatia ou compreensão empática pode ser entendida como a capacidade de se imergir no mundo subjetivo do outro. É se aproximar o máximo possível da realidade do outro e tentar ver o mundo como ele o enxerga.
Rogers assim relata:
“Quando percebem que foram profundamente ouvidas, as pessoas quase sempre ficam com os olhos marejados. Acho que na verdade trata-se de chorar de alegria. É como se estivessem dizendo: “Graças a Deus, alguém me ouviu. Há alguém que sabe o que significa estar na minha própria pele”.” (ROGERS, 1983, p. 6).
Para a empatia funcionar, devemos afastar por um instante os nossos valores, opiniões e formas de ver o mundo e adentrar no universo daquele que pretendemos ajudar. É escutar atentamente sem críticas e juízo de valor.
2 - Congruência
A congruência se refere à a comunicação aberta entre terapeuta e cliente. O terapeuta deve se sentir confortável para compartilhar seus sentimentos e isso servirá de incentivo para o cliente falar mais livremente sobre suas queixas e expectativas.
À medida em que esse processo vai ganhando força, a relação vai se aprofundando e o indivíduo tem uma maior consciência de si, aceita-se melhor e adota uma postura menos defensiva diante do terapeuta. E quanto mais congruente for o terapeuta, menos necessidade ele tem de ser superficial.
Ser congruente é ser verdadeiro e genuíno com o outro, também é estar aberto para ouvir e identificar os próprios sentimentos.
Sendo congruente podemos ser mais autênticos e reconhecermos com mais facilidade os nossos problemas e necessidades e assim nos tornamos mais capazes para ouvir o outro com sensibilidade e compreensão.
3 - Consideração Positiva Incondicional
É um conceito semelhante ao da empatia. O terapeuta centrado no cliente deve criar um clima de consideração positiva incondicional para que o cliente se sinta livre para expressar seus pensamentos e sentimentos sem medo de julgamento.
É a aceitação do outro, independente do que ele seja, fale ou como se comporte. Um respeito profundo pela vida, liberdade e individualidade da pessoa.
Quando o terapeuta assume o compromisso de colocar-se disponível na relação com o outro, minimizando todas as formas de preconceito e intolerância, o cliente se sente à vontade para revelar suas verdadeiras emoções e fazer uma reflexão sobre si.
Considerações Finais
A abordagem Centrada na Pessoa teve um papel revolucionário dentro da Saúde Mental. Mostrou o quanto uma relação empática pode ser benéfica para destravar uma tendência interna ao desenvolvimento que existe dentro de cada um de nós, além de acreditar que todo o ser humano deve confiar nas suas experiências e convicções.
Por se distanciar do modelo tradicional de psicoterapia, tirou o cliente do papel de enfermidade, tornando assim sua relação com o terapeuta mais igualitária.
Com empatia e aceitação incondicional podemos dar ao outro a oportunidade para se conhecer e desenvolver o seu potencial ao máximo.
A ACP deve servir de exemplo para a melhoria das relações humanas que estão se tornando cada vez mais superficiais.