A Entrevista Psicológica

Conceito de Entrevista Psicológica

A entrevista psicológica é uma recurso fundamental para o profissional de psicologia e se distingue pelos objetivos puramente psicológicos deste tipo de entrevista, utilizada para finalidades variadas, como diagnósticos, investigação, terapia, e etc.

A entrevista está sempre presente na prática dos psicólogos, nos mais variados contextos onde existe o fazer psicológico, como em clínicas, escolas, hospitais, empresas, serviços de atenção à comunidade, dentre outros.

Para Brígido (2015), é através da entrevista psicológica que o profissional de psicologia realiza seu diagnóstico e plano de trabalho.

A entrevista psicológica pode ser definida como um método de investigação através da relação dialógica entre duas (ou mais) pessoas, com um objetivo definido, delimitada no espaço e tempo, direcionada pelo entrevistador e que possibilita a investigação (observação, hipóteses e verificação) e a compreensão da personalidade e das representações idiossincráticas do entrevistado ou entrevistados, como crenças, história de vida, traumas, fantasias, conflitos, etc. (Brígido, 2015; Bleger, 1998)

Bleger (1998) define a entrevista psicológica como "uma relação humana na qual um dos integrantes deve procurar saber o que está acontecendo e deve atuar segundo esse conhecimento". O autor considera esta modalidade de entrevista como um importante instrumento utilizado tanto na clínica quanto na investigação científica.

Válido ressaltar que, como uma interação humana, dialógica, tanto o entrevistado quanto o entrevistador saem alterados de um encontro, pois é marcada por uma troca de conhecimentos e de informações entre os participantes, em um processo de comunicação mútua. (Caputo, 2006, apud Brigido, 2015).

A compreensão da relação é uma parte essencial do trabalho do psicólogo, sendo importante que este profissional esteja apto a observar, identificar e analisar os fenômenos que ocorrem em si mesmo, no paciente e entre ambos. (Trinca et cols, 2010).

“Às vezes escutamos algumas pessoas que perguntam: para que pensar mais profundamente sobre uma entrevista já que ela é uma conversa, é dizer coisas? A entrevista psicológica não é uma conversa. A entrevista psicológica deve ser pensada, analisada e estudada profundamente, pois não é uma simples conversa de interação sem consequências. É um diálogo onde há um psicólogo dispostos a escutar o outro na sua demanda. Este psicólogo é o profissional na sua tarefa técnica. Pela entrevista pode-se fidelizar ou perder o paciente.” (Brígido, 2015, págs. 28-29)

Tipos de Entrevista Psicológica

A tipologia da entrevista psicológica é relativamente complexa, envolvendo diversos fatores, além de nem sempre existir consenso entre os autores.

Quanto ao número de entrevistados, podemos classificar a entrevista em:

• Entrevista individual;
• Entrevista grupal.

A entrevista pode ser solicitada pelo interessado, pelo psicólogo ou por um terceiro. Quanto ao beneficiário do processo de entrevista, Bleger (1998) faz a seguinte subdivisão:

• Entrevista em benefício do entrevistado – quando é demandada pelo entrevistado, como ocorre na entrevista clínica, consulta psicológica, etc.)
• Entrevista em favor dos resultados – tipo de entrevista que visa obtenção de informações de interesse do entrevistador (enquetes, pesquisas, estudos de mercado, pesquisas de opinião, etc)
• Entrevista em benefício de terceiros – tipo de entrevista cuja demanda parte de um terceiro interessado e não da pessoa entrevistada ou do psicólogo. (processos de seleção de pessoas, por solicitação escolar ou médica, para obtenção de CNH, etc.)

É válido ressaltar que em cada tipo de entrevista é necessário considerar as distintas variáveis em ação no decorrer do seu processo, tendo em vista que as respostas do entrevistado poderão ser mais tendenciosas e manipulativas, a depender do resultado esperado de tal processo, como pode ocorrer em entrevistas para fins de avaliação ou seleção.

Dentre estes três tipos de entrevistas, a entrevista psicológica em benefício do entrevistado é a única que normalmente não demanda uma atitude motivadora marcante por parte do entrevistador, pela existência de motivos individuais do entrevistado que já são suficientemente automotivantes.

Quanto à Estrutura

A entrevista psicológica pode ser classificada conforme sua forma/estrutura em três tipos fundamentais: entrevista aberta (entrevista não estruturada), entrevista semiestruturada e entrevista fechada (entrevista estruturada):

• entrevistas fechadas (estruturadas) - apresentam uma estrutura mais voltada à objetividade, com perguntas normalmente fechadas e com opções de respostas limitadas. As entrevistas estruturadas são organizadas previamente de modo a padronizar e estruturar a obtenção dos dados e posterior análise e são compostas de roteiros ou questionários. É um formato mais comumente utilizado em pesquisas, não havendo necessidade de conhecimento clínico ou experiência específica para sua aplicação. (Cunha, 2000).
• entrevista semiestruturada (semidirigida) - as perguntas são preestabelecidas e necessárias para a obtenção dos dados pretendidos, porém o roteiro pode ser seguido conforme a percepção da necessidade maior de uma resposta pelo entrevistador ou do ritmo do entrevistado. Na entrevista semidirigida a ordem das perguntas ou sua formulação podem ser alteradas e adaptadas à situação. O entrevistador tem clareza dos seus objetivos e de que informações precisa para atingir tais objetivos, além da forma como pode obter as informações (perguntas sugeridas). (Cunha, 2000).
• Entrevista aberta (não dirigida) – as perguntas não são preestabelecidas e o entrevistado pode falar mais livremente. Os assuntos ou as respostas não são direcionadas. Neste modelo de entrevista as perguntas podem ser configuradas ou adaptadas conforme a dinâmica e variáveis da personalidade do entrevistado. Na entrevista aberta o entrevistador irá intervir conforme o que o entrevistado fala, não ocorrendo, assim, direcionamento explícito. (Cunha, 2000; Brígido, 2015).

A escolha pelo formato de entrevista pode se dar de acordo com a necessidade de cada caso ou em consideração ao problema exposto. Para uma investigação mais profunda e ampla sobre aspectos da personalidade e psiquismo do entrevistado, uma entrevista aberta será mais indicada. Ao passo em que uma entrevista fechada será mais indicada nos casos em que será necessária uma comparação sistemática de dados.

Já a entrevista semiestruturada oferece maior flexibilidade, haja vista que, a depender de variáveis como a estrutura da personalidade do paciente ou do que está sendo exposto durante a entrevista, algumas áreas e conflitos poderão ser mais explorados do que outras, podendo o entrevistador dar maior ou menor ênfase a cada tópico da entrevista ou selecionar quais informações são mais significativas para se alcançar o objetivo proposto para aquela entrevista. (Cunha, 2000).

Quanto aos Objetivos

Conforme Cunha (2000) a principal finalidade de uma entrevista é a descrição e avaliação, objetivando oferecer alguma forma de retorno, sendo um objetivo comum a todas as formas de entrevista psicológica ou clínica.

Cada modalidade de entrevista evoca objetivos instrumentais, e estes limitam o alcance e as limitações da técnica.

Alguns tipos de entrevista quanto à finalidade são:

• Triagem – O principal objetivo é avaliar a demanda do entrevistado (adequação, gravidade) e fazer um encaminhamento.
• Anamnese – Neste tipo de entrevista o objetivo é remontar detalhadamente a história desenvolvimental do entrevistado, com foco maior na infância.
• Diagnóstica – Entrevista custo objetivo é o exame e a análise de uma situação ou condição para possibilitar seu entendimento, explicação e possível modificação.
• Sistêmicas – As entrevistas sistêmicas comumente avaliam a estrutura, história dos relacionamentos ou aspectos das redes sociais pessoal e familiar.
• Devolutivas – O principal objetivo é o de comunicar ao indivíduo o resultado da avaliação, podendo ocorrer na mesma sessão, ao final da entrevista.

Contribuições da Psicologia para a Teoria da Entrevista

A teoria da entrevista foi sobremaneira influenciada pelos conhecimentos provenientes do corpo teórico da psicologia, como através das teorias da psicanálise, gestalt, topologia e behaviorismo.

As principais contribuições destas abordagens para a teoria da entrevista:

• Psicanálise: contribuiu com o reconhecimento das dimensões inconscientes do psiquismo e como elas influenciam o comportamento humano, como nas resistências, repressões, introjeção, projeção, transferência e contratransferência.
• Gestalt: contribuiu com a compreensão da entrevista de um modo total, vendo o comportamento do entrevistador como uma das partes a ser consideradas no todo que é a o processo de entrevista.
• Topologia: delineação e reconhecimento do campo psicológico e do enfoque situacional.
• Behaviorismo: trouxe o enfoque na observação do comportamento e seu estudo sistemático.